domingo, 21 de novembro de 2010

Capítulo 7 – Pulga atrás da orelha

Thor estava na porta quando entrei em casa. Ele abraçou minha cintura com suas patas e saiu para o seu canto do sofá. Ficamos ouvindo a entrevista com Heitor no meu gravador enquanto eu fazia algumas anotações em meu notebook.
Escrevi um texto sobre ele, e algo ficou engasgado na minha garganta. Sabe aquele sentimento de que quase pôs tudo a perder? Então, eu sentia que tinha feito isso. Havia perguntado demais, cedo demais. Será que Heitor iria se distanciar de mim? Talvez me achasse perigosa o suficiente para acabar com a carreira dele. Aquilo doeu meu coração e quando minha irmã me ligou para saber se eu havia conseguido, omiti algumas informações.
- Eu falei com ele – disse – o que você queria saber está respondido.
- Então ele vai mesmo encerrar a carreira? – ela esganiçou de raiva.
- Não. Ele só disse que é isso que a música diz, e não que ele realmente vá fazer isso.
- Ah Carol, mas isso é igual a nada! – ela brigou.
- Se liga! É o que eu tenho, você acha que eu sou a melhor amiga do cara? As pessoas costumam não confiar na mídia, meu bem. Ele me falou até demais, ok?
- Ta bom! – ela se emburrou – E o que você vai fazer agora?
- Não sei. Depois te ligo pra falar o que rendeu.

Ela desligou e eu fiquei nauseada. Minha irmã só pensa nesse cara. O que ele tem de tão interessante? E pra melhorar, ela estava me envolvendo, e eu ainda não sabia o motivo. Qual era a intenção dela em me empurrar para o cara, sendo que era ela quem gostaria de estar do lado dele? Na realidade, a participação de Inês era mínima, porque no fundo eu sabia que algo nele me intrigava, não sei se isso não passava do faro de repórter, já que, até então, minha rotina jornalística tinha sido aparentemente normal, cumpro a agenda, faço as matérias e só descubro aquilo que me falam. O que eu estava querendo descobrir então? Estava eu virando repórter investigativa? Ou será que toda essa angústia era algo pessoal? Eu não sabia em que ponto a história deste homem me cutucava para fazer, quem sabe, um furo de reportagem, para passar a ser especificamente uma vontade no ímpeto, única e exclusivamente para meu bom e grande ego. Ainda estava com aquela leve agonia quando fui tomar banho. Não sabia exatamente o que fazer. Mas Thor me deixou com vontade de assistir filme e comer pipocas, e graças a ele, consegui esquecer o assunto por algum tempo.

§§§

A tevê ligada era a primeira expressão de que eu não estava normal. Nunca mais havia assistido à qualquer programa, principalmente aqueles que falavam de mim. Odiava fofocas, mas, temia que Carolina pudesse falar algo de mim, apresentar alguma informação que não deveria, afinal, ela teria como provar, havia gravado nossa conversa.
Jornalista não dá um ponto sem nó. Eu deveria saber disso. Ela estava com uma roupa diferente da que vestia na coletiva, uma blusa preta, social, de mangas curtas. Uma calça também social, com alguns bolsos e botões que tiraram a feição séria de seu rosto.

-... Boa noite Carolina Heidegger – disse a apresentadora da TV Publish – qual é a novidade que Heitor Purgatto e a banda The Finalap tem para os próximos shows?
- Boa Noite – Carol respondeu – A “The Finalap” entrará numa turnê promovida pelo Credicard Hall, os locais já estão pré-definidos, porém as datas ainda podem sofrer modificações...

Carol falava sobre mim com todo o profissionalismo. Normalmente, não assisto tevê, mas eu estava tão arrependido de ter concedido aquela entrevista à Carolina Heidegger, que precisava saber o tamanho da burrada que havia feito. Não tinha contado sobre nossa conversa para a assessoria por questões óbvias. Primeiro, Ana Clara, a assessora, iria me questionar o que estava acontecendo, ela sempre sabia... Fico até imaginando a cena. Eu não poderia dizer o que realmente disse a Carolina, e Ana, por sua vez ia respirar fundo por duas vezes e dizer: “Que tal você me contar o que está acontecendo?” e eu? Não ia ter o que responder, como sempre. Mesmo assim, se ela ficasse sabendo, iria procurar o jornal para tentar impedir, mesmo não sabendo do que se trata. E quando alguém faz isso, é certeza que o jornal vai querer saber por que a notícia não deve ser veiculada, e provavelmente o efeito seria o contrário. Se caso ela sugerisse que estava passando por problemas, iriam investigar e descobrir que Lucy não estava com Ian na Inglaterra, que nós havíamos deixado-o sozinho, e que, para piorar um pouco mais, eu mantinha minha ex-mulher em cárcere privado.

Tudo ficou mais confuso ainda quando a reportagem terminou. Nenhum comentário sobre minha musica nova? Sobre o possível fim da carreira ou mesmo os problemas que estou enfrentando? Agradeci a Deus baixinho, e pedi desculpas por imaginar que Carol era outra pessoa, diferente da que demonstrou ser. Aproveitei que a matéria não saiu e resolvi impedir que pudesse sair por qualquer outro meio, liguei para assessoria, e pedi o número da Carolina para a Ana. Mal desliguei o telefone, já disquei o outro número:
___________________________________________
Leia aqui o próximo Capítulo.


Todos os textos escritos sao de autoria de Gisela Santana. Por favor divulguem, mas com os necessarios meritos.

Um comentário:

  1. Oi, Gisa, demorei, mas cheguei.

    Eu ainda não tinha lido essa parte. Agora as coisas que li se encaixam com mais coerência. Seu livro está todo intrincado, mas casadinho; isso é bom.

    Parabéns!

    ResponderExcluir

Blog Archive