domingo, 14 de novembro de 2010

Capítulo 6 – A entrevista

Luiz, que tinha me acompanhado gravando a coletiva, foi embora para editar os VT’s, e eu fiquei para tentar falar mais um pouco com Heitor. Fiquei escrevendo em meu bloco de notas enquanto os outros iam embora, mas ainda observava o comportamento de Heitor. Observei alguns curiosos me olharem atentamente, afinal, pouco antes, eu havia questionado algo e recebido uma resposta reveladora. “Conversamos depois” significaria o quê? Que aquela repórter que jazia na primeira fileira de bancos, anteriormente ocupadas por outros repórteres estaria esperando uma resposta de algo que havia questionado. Isso seria o óbvio pensar, mas entre estes curiosos, a certeza foi que sairiam informações não ditas, daquelas que ficam no ar e os espertos – ou aqueles que acham que são – pegam. Imagine se algum deles pensasse que eu, Carolina Heidegger estava tentando ter um caso com um cara mais velho, ainda que famoso, mas que tinha uma rotina totalmente diferente da minha? Em meio aos meus confrontos internos, e a dúvida de que, talvez, daquele lugar saíssem diversas novas informações facetas que ninguém havia dito, aguardei que Heitor se pronunciasse.
Assim que ele se levantou, avistou meu olhar direcionado a ele, e não teve opção senão falar comigo.
- Pois não? – ele disse, cordialmente
- Tudo bem? – perguntei, vendo-o descer para se aproximar de mim.
- Tudo. Deseja algo? – ele sorriu, ao tocar uma de suas mãos na minha.
- Desejo. – fitei-o – Estive pensando em como posso retribuir...
- Como? – ele perguntou, recordando-se do acontecido – Ah, claro! Imagina – ele riu – eu estava brincando.
- Mesmo assim, você não poderia me responder umas perguntinhas?
- E isso seria uma retribuição? – ele sorriu

Fitei-o, sem saber exatamente o que eu estava fazendo ali. Por quê mesmo eu deveria falar mais com ele? Já não era suficiente pra mim, saber que ele estava iniciando uma turnê pelo mundo, iniciando pela sua terra natal? Ele me observou, talvez procurando uma forma de evitar a entrevista. Por fim, aceitou, sorrindo pra mim. Aquilo me confortou, como se eu precisasse estar ao lado dele.

- Podemos ficar aqui mesmo? – perguntei.
- Ah, melhor não. Não quero dar motivos para outros repórteres se aproveitarem – ele sorriu e começou a andar – Vem comigo.

Peguei minha bolsa e o acompanhei, monótona e freneticamente ao mesmo tempo. Ele saiu da sala da assessoria e abriu uma das portas:
- Por favor... – galante, ele me deu a passagem.

Entrei e vi que o local parecia um grande depósito de instrumentos musicais novos. Imaginei se eles usavam tudo aquilo num mesmo show. Era como um pequeno camarim desorganizado, pois havia espelhos nas paredes e luzes em volta deles. Heitor puxou uma cadeira e esperou que eu sentasse, logo puxou uma outra para perto de mim.
- Vocês não ficam aqui, ficam? – questionei, olhando o espaço apertado.
- Claro que não, as nossas preciosidades ocupam um camarim inteiro.

Eu sorri novamente e ele concluiu.
- Vamos lá? – ele disse, com um sorriso cansado.

- Andei pesquisando – disse a Heitor, sorridente, depois de me ver ligar o gravador ao nosso lado – você está nessa carreira há 23 anos. E há sete anos seu sucesso só aumenta. Como você explica esse fato?
- Olha, não é algo que se explique. Bom, na verdade é... Mas é complicado... – ele olhou para cima, para os lados, pra qualquer lugar, menos pra mim.
- Complicado?
- Você não iria entender... Mas acho que só posso dizer que é algo Divino – sarcástico, ele sabia que eu não acreditaria no que estava dizendo.
- Divino? – perguntei – Estranho, por que, Deus não deixaria músicas deste estilo fazer tanto sucesso, assim. você me entende não é?

Ele sorriu outra vez:
- Eu imaginei que fosse dizer isso. Mas eu nunca pensei dessa forma, já que você comentou, eu acho que, se não for presente de Deus...

O que ele estava querendo dizer? Reformulei a pergunta em meu pensamento, mas ele não me esperou, e foi respondendo:

- Desculpe, eu não quis te confundir. É que o processo criativo de um músico... – ele pigarreou – no meu caso é assim: O resultado final de uma música é proporcional ao que você passa no seu dia-a-dia. Se você está resolvido, a sua música vai refletir isso. E quanto mais perguntas uma música fizer, mais ela agrada. Entenda que não é regra, é apenas a minha forma de compreender a música.
- Claro que entendo. Mas, então você afirma que se você esta tendo alguns problemas na sua vida, a sua música vai refletir isso também?
- Exato. E é esse tipo de música que atrai mais as pessoas.
- eu estava ouvindo a sua música, e dá para perceber que você está realmente num período turbulento! – afirmei.
- Todo mundo quer saber o que se passa na cabeça do seu ídolo. Se eu tenho alguns fãs, acredito que eles gostam de mim por que sabem que eu também tenho problemas na minha vida, que sou uma pessoa normal.
- Entendo. – eu disse – Mas isso não te faz mal? Sentir que seus fãs gostam de você por que é...
- Problemático? Não, não me sinto mal por isso. Eu não sou e nunca fui um herói e é bom saberem disso. Tenho problemas como todo mundo. Os grandes ídolos da música viviam para ter problemas. Alguns deles provocavam problemas, para dar valor a sua música.
- E você provoca?
- Queria poder escolher provocar, - sua face ficou séria, e eu senti a verdade em sua fala - mas os problemas me encontram, por mais que eu fuja deles.

Parei por um segundo para imaginar qual seria o grande problema que Heitor teria. Um cara rico, que ganha fazendo o que gosta. Que usa suas inspirações a seu favor pra fazer dinheiro. Tive que perguntar:
- Que tipo de problemas te motiva a criar músicas tão intrigantes?
- Não sei se você gostaria de estar por dentro dessa situação. - retrucou
- Acredite. Eu quero saber sobre isso – respondi, com seriedade.

Ele fez uma cara como quem sentia dor. Mas eu não parei por aí:
- Olha Heitor, vamos fazer o seguinte. Nem tudo o que está aqui será publicado. – apontei para o gravador – Na verdade, eu só queria saber sobre você, mas se você se sentir lesado, eu entenderei, e não farei matéria. Mas, se não se sentir disposto a responder, não tem problema.
Heitor me observou, coçando a barba cerrada que estava crescendo na altura do queixo:

- Sabe Carolina, eu estou separado há algum tempo, meu filho mora fora do país. Eu sou solitário demais, e você não convidaria meu inimigo para entrar em minha casa – ele passou a mão nos cabelos – e é só o começo.
- Eu imagino. – um sentimento estranho acelerou meu peito, uma tristeza, antes que eu pudesse tentar continuar o assunto, ele me interrompeu:
- Eu tenho uma pergunta. – disse – Por quê você está com um gravador, e não com uma câmera?

Eu ri e respondi.
- Essas perguntas não irão para a TV Publish.
- Não? – ele desconfiou – você trabalha pra outro jornal?
- Claro que não. – eu ri – é só um presente... Pra minha irmã! – sorri – depois eu explico, prometo. Posso mudar de assunto?
- Até prefiro – ele disse.
- Pois bem. Fiquei sabendo de sua última composição. Acabei percebendo que os temas são interligados, uma historia se une a outra. Correto?
- Pode ser que sim.
- Então, essa última sugere que você vai deixar a carreira?

Ele me encarou, ficando novamente sério. Devia estar se perguntando como eu sabia disso, mas tudo foi culpa de Inês, ou melhor, do email que ela me passou horas antes da coletiva, pedindo para que eu tentasse puxar uma conversa a mais com ele para colocar no site do fã clube. Heitor, ainda me observando, respondeu:
- Olha, pra ser sincero, não sei como você ficou sabendo dessa música. Mas tenho que concordar que é isso que a música diz.
- E você vai realmente parar de compor?
- Espero que não. Mas, não sei se isso vai continuar dando certo. Como disse antes, para tudo que se ganha, algo se perde...
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Leia aqui o próximo Capítulo.



Todos os textos escritos sao de autoria de Gisela Santana. Por favor divulguem, mas com os necessarios meritos.

5 comentários:

  1. Hum... Bom, mas fiquei com dúvidas, não sei são dúvidas reais ou se são confusões por já ter lido o que vem depois. Bora lá...

    O que Heitor devia a Carol, já que ela falou em retribuição? É, eu me lembro que falou em compensá-la, mas já não sei por que foi. Voltei a ler, e não consegui descobrir... E, se Carol grava a entrevista e manda pra Inês, o que sairá na TV Publish? Bom, isso é coisa pra continuação, né? Hahaha!

    Acho a Carol parecida com Luana Brito, repórter da TV Aratu - não achei nenhuma foto legal pra enviar. Ela é loirinha, de cabelos compridos e super lisos, e tem olhos castanho-claros ou verdes; ela é magérrima e muito bonita.

    PS. Achei! Olha ela aí - http://youtu.be/mAI2hwcELn4

    Beijos!

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  2. Eu voltei ao primeiro capítulo e vi a parte em que Heitor fala que vai pensar em alguma coisa pra compensar, mas quem devia compensá-lo não seria ela, pela entrevista? Aff! Tô confusa, me ajuda. Não é sempre que a gente pode perguntar diretamente ao escritor.

    Beijos!

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  3. hahah! imagine que a mídia leva tudo como uma troca. ela não fala de alguém se não obtiver retorno, e essa pessoa que vai dar retorno pra mídia, só dá retorno por que ela ESTA na mídia.. confuso não?
    mas é que, de uma forma geral, como foi a carol quem agradeceu, Heitor aproveitou para virar o jogo, senão, poderia ser Carol quem avisaria sobre compensação... sacou?; hahaha
    que bom que está acompanhando, ainda posso rever essa parte ... se acontecer, eu aviso!!

    Brigadaão isie (=

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  4. Eu entendi sim. Feito uma vez que uma banda pagou R$ 50.000,00 pra tocar no Faustão - e o apresentador ainda ficou botando banca com o tempo de cada música a ser executada. Hahaha! Testemunha quase ocular. Mas essa coisa do Heitor com Carol e Carol com Heitor... Tendi não. =S

    Tô lerdinha hoje, será? kkk...

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  5. haha! magina.. as coisas são assim! haaha

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