domingo, 28 de novembro de 2010

Capítulo 8 – Uma voltinha na avenida

Acordei assustada, pulando do sofá onde estava abraçada com Thor. Graças a isso, o cheiro de cachorro impregnou em mim de tal forma que me senti literalmente a companheira dele. Ele não era fedido, mas cachorro normalmente tem um cheirinho não tão agradável.
O telefone tocava. Saí correndo para atendê-lo:
- Alô? Quem fala? – perguntei arfante ao telefone mudo – Alô? – insisti.
- Oi, é a Carolina?
- Sim, quem é?
- Heitor.

Como assim? Heitor?
- Desculpe, quem? – perguntei.
- Heitor Purgatto. Pode falar um minuto?

Engoli seco. Claro que podia, mas então por que não respondi antes?
- É claro. O que aconteceu? – preocupei-me
- É só uma dúvida.
- Pode falar. – disse, sem entender nada
- Não saiu nossa conversa no jornal!
- Claro que não! – eu disse – eu disse que poderia não sair.

Ele riu do outro lado da linha e prosseguiu:
- Por quê? – ele perguntou.

Por quê? Não era ele quem havia me pedido para não publicar? Acaso ele não estava nervoso com a situação que eu havia colocado-o? Talvez ele tenha lapso de memória constante. E eu com isso? Como ele viu que eu não havia respondido, ele prosseguiu:

- Está ocupada?
- Não exatamente. Por quê.
- Podemos conversar pessoalmente?
- Conversar? É... Pra, pra mim tudo bem! – gaguejei, confusa.

Que estranho. O que ele estava fazendo? Me convidando para sair?

- Pode ser agora? No calçadão da paulista?
- T- Tudo bem. Você mora por aqui?
- Moro, você também? – ele perguntou
- Também!– Thor estava me observando – Tem problema com animais?
- Nenhum pouco, por quê?
- Vou levar o meu cachorro. – eu sorri e Thor aceitou o passeio.

Depois de finalizar a conversa, desliguei o telefone e fui tomar um banho. Aproveitar para passear com Thor iria fazer bem a nós dois:
- Quer passear, Thor? – perguntei a ele, que me acompanhava no banheiro, olhando-me pelo box – Vai conhecer um grande cantor – eu ri.
Ele se moveu no banheiro e eu percebi que ele se aproximou.

Parei em frente ao armário do closet de toalha, pensando no que iria vestir. Calça? Vestido? Vesti umas três peças de cada tipo e acabei escolhendo uma saia evasê preta, bem básica, e uma regata branca. Um colar dourado, meu relógio e os apetrechos necessários que caibam numa bolsa de alça curta, num tom amarelado, combinando com meu colar.
Coloquei uma maquiagem para noite, bem básica nos olhos e boca e uma sapatilha delicada. Já estava saindo do quarto quando observei como realmente estava. Parei em frente ao espelho e ri da minha ingenuidade: eu estava bonita! Mas, pra quê? Ou melhor, pra quem? Heitor só queria conversar. Thor me aguardava quieto, em cima do seu tapete favorito. Cheguei perto dele, seu cheirinho não estava tão bom, ainda assim coloquei a coleira em Thor e saí de casa.
Caminhei lentamente pelos três quarteirões que distanciam a minha casa da Avenida Paulista, Thor acompanhava do meu lado, dando os mesmos passos, às vezes olhava pra mim, outras vezes para os carros que passavam, mas na verdade ele se perguntava para onde estávamos indo.

§§§

“Por que eu não falei tudo por telefone?” – pensei, me dirigindo ao calçadão.
E pra piorar, Carolina aceitou. Eu não sabia o que dizer e nem o porquê isso era tão importante para ser pessoalmente. Na verdade, eu sabia que não era bom vê-la com tanta frequência, e talvez ela me compreendesse mal, achando que eu tinha intenções diferentes. Eu mesmo não entendia direito, mas vamos lá.
Encostei-me no canto do inicio do calçadão e esperei que ela chegasse. Avistei primeiramente um cachorro, mas desacreditei que seria o de Carolina. Ele era grande demais e pouco delicado. Assim que consegui observar seu dono, já estava tão perto que Carol sorriu pra mim e eu pude a observar sem aquelas roupas as quais ela fazia suas reportagens. Fui em sua direção:
- Oi – cumprimentei Carol e olhei o cachorro – Imaginei que pudesse ser um poodle, não um Rhodesian.

Eu reconheci a raça do cão depois que vi aquela elevação anormal em sua coluna. Ele era de fato, estranhamente diferente. Não era um cachorro para pessoas delicadas, porém, devo dizer que não conhecia Carolina para dizer se ela era tão delicada quanto parecia.

- Enganou-se – ela disse a mim. – e então, o que vamos tratar?
- É só uma dúvida.
- Disso eu já sei. – ela sorriu
- Pois é. Então – balbuciei – V-vou direto ao ponto! – disse enquanto caminhávamos, com o cachorro entre nós dois - O quê você fez com a entrevista que tivemos esta manhã?
- O que eu fiz? – ela tossiu – bom, ela está na minha casa. Por quê?
- O que pretende fazer com ela? – cutuquei.
- Como havia dito, era pra ser um presente. Mas... – ela disse preocupada – Heitor, se você não quiser que seja publicado, eu não vou publicar. Já disse. – ela olhou profundamente em meus olhos.
- Um presente, pra sua irmã, certo?
- Certo. É que... – ela passou a mão no cachorro – é, bom... Ela é sua fã!

Eu ri. Então ela tinha uma irmã que gostava da banda. Legal.
- Bom, - prossegui – uu ia te pedir para não fazer nada com a matéria.
- Eu não ia fazer nada!
- Não?
- Claro que não! – confirmou – havia pensado em fazer esse favor a ela, afinal foi ela quem me deu algumas informações sobre... – ela parou.

Sobre? Sobre mim? Sobre a música ou o show? Como ela poderia saber? Não perguntei como sua irmã sabia de algo sobre mim, mas ela sabia que já tinha falado demais.

- Desculpe – ela fechou os olhos - não... Não me compreenda mal! Eu... Quero dizer, ela, bom... É sua fã, e eu não sei, bem... Como... – ela me olhou, por fim sem finalizar.

Vi a vergonha em seus olhos quando encontraram os meus. Eu fiquei com pena da tensão que ela estava sentindo. É claro que eu não gostava nenhum pouco de saber que havia alguém que buscava informações sobre mim, mas Carolina só queria agradecer sua irmã por ter dado informações sobre mim.
- Eu... Eu não vou mostrar, ok? Nem pra ela, nem pra ninguém! – ela concluiu, ainda vermelha.
Sua face queria dizer dezenas de coisas, mas ela se contentou em pedir desculpas e a conversa silenciou-se por alguns minutos.

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Leia aqui o próximo Capítulo.



Todos os textos escritos sao de autoria de Gisela Santana. Por favor divulguem, mas com os necessarios meritos.

2 comentários:

  1. Finalmente eu me dei conta da elevação nas costas do cachorro - http://www.dogbreedinfo.com/rhodesianridgebackphotos.htm -, ele é tão fofo que dá vontade até de beijar...

    Seguindo pro próximo capítulo. Quando é que vai ter um beijo, hein? rsrsrs

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  2. ele é mesmo muuito fofo! lindo de mais, eu imagino o Thor bem assim mesmo, com um porte mais forte, menos esguio... (=

    beijo? Hmm. rs

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